Matéria publicada originalmente por Qualittas em 10 de agosto de 2021.
Com genética diferenciada da convencional, vacas produzem leite que o corpo humano possivelmente digere melhor; nicho representa menos de 1% do mercado de leite
Mesmo durante um cenário desafiador para a atividade leiteira, com a falta de chuvas que afetam as pastagens e a alta nos custos de produção, a família Jank, proprietária da Fazenda Agrindus, a quinta maior produtora de leite no Brasil, tem apostado em um tipo de rebanho ainda incipiente no País, que tem trazido ganhos para o negócio: o de vacas A2A2.
Esses animais produzem um leite que o corpo humano digere com mais facilidade. Essa matéria-prima foi descoberta nos anos 1990 e lançada comercialmente na Nova Zelândia, um dos países líderes em produção de leite, em 2003. Depois da queda da patente do produto, em 2015, o leite A2 passou então a ganhar o mundo também pelas mãos de outros produtores.
A diferença do A2 para o leite convencional é a proteína beta-caseína A2, a mesma encontrada no leite materno, segundo o empresário e diretor da Agrindus, Roberto Jank Jr. A fazenda vende leite e derivados com a marca Letti A2.
Em 2020, o mercado global do leite A2 e seus derivados foi avaliado em US$8 bilhões, segundo a empresa canadense Precedence Research. Para 2030, a projeção “consistente” é de US$25 bilhões, aponta Jank Jr.
O consumo de leite mais facilmente digerível tem crescido em países como a China e os Estados Unidos, que usam a matéria-prima em fórmulas infantis. No Brasil, a Agrindus é a precursora em um segmento ainda bastante restrito, avaliado, por ora, em cerca de R$100 milhões anuais, o nicho representa menos de 1% do mercado de leite. São poucos os produtores no país, e a produção ocorre em fazendas verticalizadas, com rastreabilidade sobre a origem.
Em resposta a uma solicitação da entidade setorial Abraleite, o Ministério da Agricultura aprovou o leite de vacas com essa genética. Com o sinal verde, a Agrindus passou a vender os produtos, em outubro de 2018. “O ministério forneceu um selo de reconhecimento de produto proveniente de vacas A2A2, mas ainda falta a Anvisa terminar o estudo sobre a capacidade de digestão para que possamos incluir essa informação no rótulo”, comentou o diretor da fazenda.
Hoje, as embalagens informam apenas que o leite é proveniente de animais com essa genética, e a Agrindus investe em comunicação via site e redes sociais, além de trabalhar em uma aproximação com pediatras e nutricionistas. Em outros países, há na rotulagem a identificação de “digestão mais fácil”.
Com a aposta, a companhia tem conseguido ganhar cerca de 10% a mais em preço no nicho dos leites A. Isso permitiu-lhe ampliar sua receita no primeiro semestre deste ano em 15% por hectare, para R$100 mil por área.
Para Jank Jr., a Agrindus quer abraçar consumidores de diferentes classes de renda. Nos municípios de Descalvado e São Carlos, por exemplo, onde, de acordo com o empresário, as pessoas valorizam muito o leite fresco, a bebida é vendida em saquinhos de plástico, com valores mais acessíveis. “Apostamos em um conceito que é reduzir o máximo possível o processamento”, conta. Jank explicou, ainda, que as genéticas distintas dos animais, tanto a A2A2 quanto a A1A1 das vacas que produzem o leite convencional, nada tem de processos de transgenia. “São adaptações ao ambiente, mudanças naturais que ocorreram nos animais”, completou.
Fonte: Valor Econômico, adaptado por Qualittas